Ensaio É tempo de caju
- jffernandes0
- 7 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Em outra parceria com a fotógrafa Naiara Demarco, realizamos um ensaio fotográfico que nos conta a história da farinha de castanha de caju. A narrativa se passa numa tarde ensolarada de um mês de outubro, no Ceará, na Terra Indígena de Almofala. Os cajueiros, tão centrais no cotidiano, estavam abarrotados de frutas. Fazia-se muito mocororó - bebida fermentada de caju - e comia-se muita castanha.
Texto de abertura:

A partir de setembro, é tempo de caju! Os cajueirais da Almofala do povo Tremembé enchem-se de frutas que, de tanta fartura, esparramam-se pelo chão de areia branca. Mãos os recolhem com facilidade, separando a maciez da carne da dureza da castanha, enquanto bocas mastigam e sugam o suco doce e remoso. Mãos os espremem para fazer o mocororó, caju azedo fermentado, e levam às bocas sedentas de café e prosa as castanhas torradas em fundos de quintais. Em meio à descontração jocosa e familiar de uma tarde de sábado, o fogo crepita e amolece a casca até então impermeável à degustação humana. Parentes e vizinhos achegam-se para ajudar a descascar a castanha já torrada, esfriada pela areia. Até transformar-se na farinha - iguaria boa para se comer com peixe assado -, a castanha circula por várias mãos, seja para separá-la do caju, torrá-la, descascá-la, pila-la ou simplesmente levá-la à boca. Aconchegar-se em um canto com uma pedra para quebrar sua casca, revezar-se no pilão ou simplesmente aguardar o momento de comer é um processo no qual mãos produzem e bocas conversam e comem, possibilitando a circulação de palavras e alimentos. Ao final, a farinha, centro em torno do qual desenrola-se a tarde, dispersa-se tal qual as mãos e bocas que a produzem, que a levam, contentes, para suas próprias cozinhas.
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